11/11/2022
Projeções positivas para a safra 2022/23: de que forma isso impacta a produção de proteína animal?
Em agosto, a Conab estimou uma colheita de 308 milhões de toneladas de grãos no Brasil. safra 2022/23. Entretanto, mesmo com essa estimativa, ainda há tendência de, principalmente o milho, ter um alto custo para a cadeia produtiva animal
Após os efeitos da severa estiagem, a partir de agora as projeções são positivas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma colheita de 308 milhões de toneladas para a safra 2022/23. Essa quantidade, impulsionada pelo bom desempenho dos mercados de milho, soja, arroz, feijão e algodão, estimula um crescimento de 3,54% na área do cultivo. No sul do país, as projeções também são positivas, com a Conab estimando que, só no estado do RS, poderá chegar a um volume recorde de 40,5 milhões de toneladas.
Em relação à soja, a companhia aponta uma produção de 150,36 milhões de toneladas para a próxima temporada no país. “Os preços do grão continuarão atrativos. A oferta e a demanda mundial da oleaginosa seguem ajustadas, refletindo a tendência de crescimento de 3,54% de área cultivada, podendo chegar a 42,4 milhões de hectares”, afirma o supervisor do setor de grãos, Roni Roese.
O supervisor salienta que a produtividade do ciclo 2022/23 apresentará recuperação em relação à atual safra, após os problemas climáticos registrados principalmente nos estados do sul do país e em parte do Mato Grosso do Sul. “Com essa esperada melhora na produtividade, a Conab estima que a maior disponibilidade do grão deve propiciar exportações na ordem de 92 milhões de toneladas, o que equivale a um aumento de 22,2% em relação à safra anterior.”
Diz Roese que esse é um recorde superior à estimativa de aumento dos embarques dos grãos para o mercado internacional, e que os estoques para a temporada 2022/23 devem crescer em torno de 3,9 milhões de toneladas em relação ao que é previsto para o ciclo atual, sendo um total de 9,89 milhões/ton projetados pela Conab.
Milho
Somente para o milho, a companhia prevê uma produção total de 125,5 milhões de toneladas. “Na primeira safra, há projeção de uma leve queda de área, com variação negativa de 0,6%, uma vez que o cereal concorre com a soja”, afirma Roese.
No entanto, avalia que ainda assim é uma possível recuperação na produtividade levando em consideração a escassez hídrica em importantes regiões produtoras na temporada 2021/22. “Consequentemente, haverá uma produção de 28,98 milhões de toneladas. Na segunda safra, está sendo projetado um aumento tanto de área como de produtividade, o que resultará em uma estimativa de colheita de 94,53 milhões/ton, equivalente a um acréscimo de 8,2% em relação à safra 2021/22.”
Cotação equilibrada
Para o supervisor, esse cenário não apresenta queda expressiva para as cotações de milho, uma vez que o panorama aponta para a oferta e demanda ajustadas no ano que vem. “Com isso, a tendência é que as cotações de milho continuem positivas, ainda mais com os altos custos de produção.”
“Além disso, é preciso lembrar que nas duas últimas safras, o clima foi uma variável de grande influência para o desenvolvimento da cultura”, complementa Roni.
Proteína animal
O Supervisor explica que, na prática, para o mercado de proteína animal, o próximo ano/safra se configura em mais um grande desafio no gerenciamento de custos de produção, diante do preço elevado do milho. “Os produtores, principalmente de aves e suínos, devem se deparar com uma margem menor na rentabilidade.”
Menor área de plantio do milho no RS
Roese ainda expõe que a área destinada ao plantio de milho no RS tem diminuído desde a década de 70, mas a produtividade tem aumentado com as novas tecnologias presentes no campo, porém, a produção apresenta oscilação conforme as adversidades climáticas.
“O grão é estratégico para as cadeias produtivas no RS, pois alimenta o segmento avícola, suinícola e leiteiro. Mas, infelizmente o estado possui um déficit de 3,2 milhões de toneladas de milho”, afirma.
Por que esse déficit?
A demanda do estado em 2022 é de aproximadamente 6,3 milhões de toneladas enquanto a produção situa-se em torno de 3,1 milhão. “E por isso há uma grande procura em outros estados e países, mas com altos custos por conta do frete rodoviário.”
Custos de frete de outros Estados
Para ele, o estado gaúcho consegue suprir uma parte desse déficit com cereais de inverno como o trigo, aveia, triticale, mas projeta-se que, apesar disso, precisará adquirir dois milhões de toneladas de milho no corrente ano de outros estados ou países para suprir a demanda interna.
“Uma das principais dificuldades enfrentadas pelo setor é a conciliação do frete à viabilidade do produto posto no RS (frete de ida)”, exemplificando que o custo do frete pelo milho adquirido no Mato Grosso está no valor aproximado de R$ 600 reais a tonelada enquanto no Paraná, o custo médio é de R$ 450 reais/ton.
“O estado gastará anualmente, no mínimo, R$ 900 milhões de reais com frete rodoviário, considerando o valor do custo médio entre Mato Grosso e Paraná. Mas é preciso salientar que mesmo com esse déficit, o estado gaúcho ainda exporta milho/grão para outros países”, conclui Roese.
Impacto da exportação
O supervisor entende que o aumento projetado pela Conab traz disponibilidade e expectativa de disponibilidade de milho para a safra 2022/23. “O aumento da oferta impacta diretamente no volume exportado, influenciado principalmente pela provável demanda chinesa e pela projeção de manutenção do valor do real”.
Preço do milho
Conforme os dados da Conab, em relação ao preço do milho, a sazonalidade da categoria Spot acompanha a colheita do país, ou seja, há uma redução dos preços no momento de maior disponibilidade, que é durante a entrada da segunda safra para comercialização no mercado.
“Com a recuperação da disponibilidade de milho afetada pelo fenômeno La Niña na safra passada, principalmente pela produção de milho nessa segunda safra, a tendência é que seu preço apresente queda. Contudo, em virtude do cenário internacional incerto em termos de abastecimento, a expectativa é que esse viés de baixa seja limitado”, detalha Roese.
Atualmente a paridade entre importação e exportação tem apresentado valores acima das cotações negociadas internamente no mercado brasileiro. Esse cenário exige que o RS desenvolva políticas voltadas ao incremento do plantio de milho e ao aumento da produtividade para assim reduzir a dependência de outros estados. “Nós temos muito potencial para aumentar a área e a produtividade de milho e de cereais de inverno e, com isso melhorarmos a viabilidade das cadeias produtivas no estado”, conclui. Contudo, é preciso que o estado promova estudos para estruturar outras formas produtivas, como o estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada para aumentar a capacidade de secagem e armazenamento de grãos, a criação de uma espécie de segurança com estoques reguladores e assim, evitar os riscos do desabastecimento do grão no estado gaúcho.
No Vale do Taquari
Conforme a engenheira agrônoma, Letícia Conzatti Piccinini, atualmente os produtores da região do Vale do Taquari cultivam mais milho silagem em relação a soja e o milho grão. “São 56 mil/ha de milho silagem, que representa 50% de área plantada. Já a soja possui 21mil/ha, que é 19% e, o milho grão 34 mil/ha, ficando com apenas 31%. Mas são dados que pouco representa diante do déficit que o estado do RS demanda em relação ao que produz”, finaliza a agrônoma.
Legenda: Somente para o milho, a CONAB prevê uma produção total de 125,5 milhões de toneladas para safra 2022/23
Fotos: Kástenes Casali
Assessoria de Imprensa Cooperativa Dália Alimentos
Jornalista Kástenes Casali